Pelo menos dez indígenas do povo Apinajé faleceram nos últimos sete meses sem saber qual doença estavam enfrentando. A crise de saúde pública tem afetado cerca de 66 aldeias localizadas na divisa entre o Tocantins e o Maranhão. As mortes, segundo relatos de lideranças e autoridades, ocorrem desde outubro de 2024 e estão diretamente ligadas à falta de acesso a exames, transporte e atendimento médico básico.
De acordo com a Defensoria Pública do Tocantins, os indígenas não conseguiram realizar exames laboratoriais nem receberam acompanhamento adequado nas unidades de saúde. A cacique Marlucia Apinajé lamenta a situação e destaca o cenário de abandono vivido pelas comunidades.
“Está havendo uma precariedade tão grande em todas as áreas. Falta medicamento, falta transporte e ninguém está realizando exames”, afirmou.
Apesar da gravidade, medicamentos enviados pelo governo federal ainda não chegam às mãos de quem precisa. Enquanto as farmácias municipais registram estoque, os postos de saúde das aldeias carecem de insumos para tratar condições comuns, como hipertensão e diabetes.
A situação se agravou com as mortes recentes de duas mulheres Apinajé no Hospital de Augustinópolis. Judith Fernandes Apinajé, de 82 anos, faleceu após um mês de dores abdominais sem diagnóstico. Dias antes, Martia Celia Apinajé, de 52 anos, também morreu após semanas em coma, sem assistência especializada.
“O governo diz que manda os remédios, mas aqui a gente não vê nada. Que saúde é essa que chega até os Apinajé?”, questionou a moradora Maria Aparecida Apinajé.
Para investigar a situação, equipes da Defensoria Pública foram até a região, vistoriando farmácias, unidades de saúde e ouvindo lideranças indígenas para entender os gargalos no sistema. Segundo a defensora pública Letícia Amorim, estão sendo elaboradas recomendações e articulações com outros órgãos para buscar soluções concretas.
“Diante dos relatos, a Defensoria Pública está preparando recomendações e organizando reuniões para que possamos, em conjunto com outros órgãos, atuar de forma resolutiva em relação aos problemas e desafios apresentados pela população indígena Apinajé.”
As recomendações devem ser apresentadas ao fim das audiências, previstas para encerrar na próxima semana.
Nota na íntegra do Ministério da Saúde
O Ministério da Saúde enviará uma equipe técnica da Secretaria de Saúde Indígena (SESAI) para avaliar a situação dos indígenas Apynajé, atendidos pelo Distrito Sanitário Especial (DSEI) Tocantins.
Para o abastecimento de medicamentos e insumos na região, foram enviadas 03 remessas este ano, totalizando 223,1 mil unidades. A última entrega foi feita em maio.
Sobre a remoção dos pacientes, está em vigor contrato emergencial de transporte até a conclusão do processo de licitação definitivo. Diante de falhas na substituição de veículos, a empresa foi notificada pelo Ministério da Saúde.
Em situações que exigem assistência de média e alta complexidade, o DSEI Tocantins aciona os serviços estaduais e municipais especializados como hospitais e UPAs para garantir a continuidade do cuidado.