Com um salto de 402 mil hectares em relação à safra anterior, o Tocantins alcançou a marca de 1,6 milhão de hectares plantados com soja em 2025. O dado é da SpectraX, empresa especializada em inteligência territorial, que identificou o estado como um dos que mais avançaram na região da Amazônia Legal. A expansão ocorreu principalmente sobre áreas de pastagem já abertas, muitas delas degradadas, em um modelo que alia agricultura e pecuária.
O movimento segue a tendência observada em outros estados da região Norte, como Mato Grosso, Pará, Maranhão, Rondônia e Roraima, que também contribuíram para o redesenho do mapa da soja no país. Embora o Mato Grosso siga na liderança da produção nacional, estados antes considerados marginais ao agronegócio ganham destaque e ampliam sua influência no setor.
Mais produtividade, menos desmatamento?
Pesquisadores da Embrapa avaliam que a conversão de pastagens em lavouras é uma estratégia positiva para ampliar a produtividade sem necessidade de abrir novas áreas. A tecnologia tem sido uma aliada: o uso de edição gênica já permite o desenvolvimento de cultivares adaptadas a solos e climas diversos, como uma variedade de soja com menor demanda hídrica, ideal para regiões mais secas do Tocantins.
“O Brasil tem tecnologia para crescer sem desmatar”, afirma Alexandre Nepomuceno, da Embrapa Soja. Segundo ele, há produtores colhendo até 7 toneladas por hectare, patamar muito acima da média de 1,7 tonelada registrada nos anos 1980.
Pressão ambiental preocupa especialistas
Apesar do avanço tecnológico e da promessa de sustentabilidade, o cenário ambiental acende alertas. Entre agosto de 2024 e maio de 2025, o desmatamento na Amazônia cresceu 15%, de acordo com o Imazon. No período, 2.825 km² de floresta foram derrubados, área superior à da cidade de Palmas.
Embora o Tocantins não esteja entre os estados que mais desmatam, parte de seu território integra a Amazônia Legal e pode sofrer efeitos indiretos da pressão sobre o bioma. O próprio Imazon não relaciona diretamente a soja ao desmatamento recente, atribuindo os impactos principalmente a queimadas e extração ilegal de madeira. Ainda assim, o avanço da fronteira agrícola é visto com cautela, sobretudo nas áreas de transição entre o Cerrado e a floresta.
Avanço da produção exige vigilância
Na teoria, o crescimento da produção agrícola pode caminhar em harmonia com a preservação ambiental. Na prática, porém, esse equilíbrio ainda enfrenta desafios. A expansão da soja muitas vezes ocorre em regiões com fiscalização precária, ausência de controle ambiental e compensações mal definidas.
Apenas em maio de 2025, segundo o Imazon, 679 km² de floresta amazônica foram perdidos devido a queimadas e atividade madeireira, salto expressivo em relação aos 6 km² registrados no mesmo mês de 2024.
Com a nova configuração do agronegócio, o Tocantins passa a ocupar uma posição estratégica no cenário agrícola nacional. Resta saber se o desenvolvimento virá acompanhado da responsabilidade socioambiental que o momento exige.
Com informações do Jornal Opção Tocantins.