O CEO Gilberto Tomazoni respondeu a analistas em teleconferência que os irmãos Batista “não possuem qualquer impedimento” para voltar ao conselho de administração
Por José Florentino e Nayara Figueiredo — São Paulo
Uma das primeiras perguntas feitas por analistas à JBS durante a teleconferência ontem para discutir os resultados de 2023 teve pouco a ver com o prejuízo de R$ 1 bilhão que a companhia amargou. O mercado queria entender o que significa para o futuro da empresa a indicação dos irmãos Wesley e Joesley Batista ao conselho de administração, quase sete anos após a dupla ser afastada após processos por uso de informação privilegiada, dos quais foram absolvidos no ano passado.
Em resposta ao questionamento, o CEO global da companhia, Gilberto Tomazoni, disse que os irmãos Batista “não possuem qualquer impedimento para ocupar assentos no conselho ou cargos executivos”.
Para ele, o trabalho dos irmãos alçou o que era apenas um açougue em Goiás ao posto de uma empresa líder global em alimentos no mundo. Tomazoni ainda ressaltou que o retorno de Wesley e Joesley deve “enriquecer as discussões e contribuir com o crescimento da JBS”.
Na B3, a resposta foi negativa e as ações ON da empresa terminaram a sessão em queda de 2,19%. “Acredito que foi uma reação ao balanço. Sempre existiu uma percepção que eles (Wesley e Joesley) seguiam atuando na companhia”, avaliou o estrategista-chefe da RB Investimentos, Gustavo Cruz.
O provável retorno dos Batista acontece em um momento importante para a companhia: a JBS espera receber a aprovação da dupla listagem nos Estados Unidos e no Brasil este ano. A solicitação foi feita em 2023, atualizada nesta semana e aguarda o aval da Comissão de Valores Mobiliários americana (SEC, na sigla em inglês).
A listagem da JBS nos EUA enfrenta a resistência de senadores americanos e de um movimento chamado “Ban The Batistas” (Proíbam os Batistas, em tradução literal). Entre os argumentos contrários à oferta pública, os parlamentares citam um histórico de “corrupção, abusos dos direitos humanos, monopolização do mercado e riscos ambientais” da empresa.
Ao Valor, a JBS frisou que a dupla listagem aumentará o escrutínio sobre os processos da companhia, que terão de atender aos padrões da SEC e da bolsa de Nova York.
Uma fonte do setor disse que é difícil prever a repercussão e os impactos da indicação de Joesley e Wesley. “Mas, dada as resistências que eles já estão tendo, acho que não ajuda. Dá mais ‘lenha’ para o pessoal usar”, afirmou.
Outra fonte acredita que a dupla listagem pode trazer um certo conforto ao mercado na questão de governança, por ter a SEC olhando a JBS além da CVM, “mas a volta dos irmãos pode causar ruído sobretudo para o investidor internacional, mesmo que a família nunca tenha ficado distante da empresa”.
Apesar dos desafios, a companhia demonstra otimismo com o futuro. Uma melhora das margens nas operações de frangos e suínos aponta para perspectivas otimistas para 2024, disse Tomazoni.
Acionistas controladores da JBS, Wesley e Joesley começaram na companhia aos 17 e 16 anos, respectivamente, e estiveram à frente da expansão da empresa até que o grupo se tornasse um dos líderes globais no mercado de carnes. A dupla foi afastada em 2017, após a abertura de processos na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), em decorrência das investigações deflagradas após o episódio que ficou conhecido como “Joesley Day”.