O “Hotspot” e a biodiversidade ameaçada do cerrado
O Cerrado é a segunda região ecológica brasileira e acomoda uma das maiores biodiversidade do mundo. Cobrindo mais de 20% do Brasil e presente em dez estados, esse bioma é classificado como um Hotspot. Infelizmente para ser considerado um Hotspot, uma ecorregião deve apresentar dois critérios: apresentar ao menos 1.500 espécies de plantas vasculares endêmicas (ou seja, que não ocorrem em nenhum outro lugar do mundo) e ser constituído por 30% ou menos da sua vegetação original. Um Hotspot é sinônimo de área insubstituível, dessa forma a destruição dessas regiões é inevitavelmente acompanhada por extinções de fauna e flora.
A biodiversidade do Cerrado é ainda pouco conhecida. São poucos os inventários dos mais diversos grupos taxonômicos que compõem o bioma. E a eminente ameaçada de extinção justifica a necessidade urgente de maiores investigações sobre a composição das espécies do Cerrado, suas contribuições ecossistêmicas e possibilidades de bioprospecção (aplicações médicas e econômicas) e inovação tecnológica.
As principais contribuições para o Tocantins
A artropodofauna corresponde aos invertebrados do filo Arthropoda que engloba muitos animais conhecidos do nosso dia-a-dia como borboletas, abelhas, formigas, lacraias, aranhas, escorpiões e carrapatos. Esses animais são fundamentais para a manutenção da biodiversidade local, participando de importantes processos ecológicos como a ciclagem de nutrientes e polinização.
Pouco se sabe sobre a real diversidade de espécies de artrópodes presentes no Tocantins. Acredita-se que para o Cerrado como todo, exista mais de 10.000 espécies de borboletas e mariposas, 130 espécies de cupins, 140 espécies de vespas sociais e mais de 800 espécies de abelhas.
Dentro desse panorama, o grupo de pesquisa Sistemática Integrada e Bioprospecção da Artropodofauna Terrestre Neotropical liderado pela pesquisadora Lidianne Salvatierra objetiva preencher algumas lacunas de conhecimento da fauna do Cerrado, em especial a que compõe o estado do Tocantins.
O grupo de pesquisa está desenvolvimento projetos que abordam a atualização da listagem de espécies de diferentes grupos de invertebrados como borboletas e aranhas, descrição de espécies novas, estudos ecológicos e também a avaliação dos conhecimentos etnozoológicos (crenças, mitos e conceitos tradicionais da comunidade leiga) e aplicações dos resultados no processo de ensino-aprendizagem.
Um exemplo de pesquisa em andamento é o projeto intitulado Araneofauna (Arachnida: Araneae) em uma área de encrave de Savana e Floresta Estacional Semidecidual do Cerrado no município de Dianópolis (Tocantins). O estudo faz parte do mestrado da discente Kássia de Oliveira Madaleno, com orientação da doutora Lidianne Salvatierra, no Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade, Ecologia e Conservação (PPGBec) da Universidade Federal do Tocantins (UFT).
Resultados preliminares já revelaram uma importante fauna de aranhas com a presença de ao menos vinte e três famílias da ordem (aproximadamente 18% das famílias existentes no mundo), novos registros de espécies para o Tocantins e ao menos três espécies novas.
Possibilidades de resultados e implicações na sociedade desenvolvimento econômico e social no estado
Os resultados de estudos da artropodofauna podem oferecer importantes dados sobre a fauna local e a necessidade de ações de conservação mais urgentes, subsidiarão trabalhos de biomonitoramento e incrementarão o conhecimento sobre a taxonomia e história natural das espécies de invertebrados do Cerrado.
Além disso, pesquisas que envolvem o estudo da taxonomia (identificação e descrição) de uma espécie são fundamentais para a correta identificação dos registros, predições dos riscos de ameaças às espécies e até de implementação de estratégias de medidas profiláticas e sanitárias a fim de dirimir a incidência de acidentes com animais peçonhentos.
Lidianne Salvatierra Paz Trigueiro tem Mestrado (2011) e Doutorado (2016) em Ciências Biológicas pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). Participou do Ciências Sem Fronteiras com bolsa de Doutorado Sanduíche no Exterior (SWE) na The George Washington University. Desenvolveu o Pós-Doutorado através do Programa Nacional de Pós Doutorado da CAPES pela Universidade Estadual de Roraima, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Educação. Atualmente é Professora Adjunta I e coordenadora do curso de Biologia da Universidade Federal de Tocantins, Campus de Araguaína – CIMBA.