Por Paulo Santos — São Paulo – Globo Rural
Depois de 17 anos seguidos de renda positiva aos produtores brasileiros de soja, a temporada da safra 2023/24 corre o risco de ter resultados negativos para a maioria dos agricultores. A avaliação é de Flávio Roberto de França Junior, líder de conteúdo da Datagro.
“Apesar do recuo nos custos de produção, tivemos também a queda expressiva nos preços, ficando a possibilidade de renda positiva atrelada ao bom desempenho na produtividade – que mesmo que seja positiva, no geral, o desempenho será inferior aos três últimos anos”, comentou, em nota, França Junior.
O avanço da colheita de soja no Brasil, que chegou a 70% da área até a última sexta, de acordo com a Pátria Agronegócios, continua mostrando rendimentos desuniformes em muitas regiões do país.
Dentro desse contexto, a Datagro ressalta que observando as variáveis que determinam a lucratividade bruta, definida pela relação entre a receita obtida, custo de produção e produtividade, pendem para o lado positivo apenas para os sojicultores que conseguirem “colher bem”.
“No lado limitante, consideramos queda expressiva na expectativa de produtividade média, muito abaixo da expectativa inicial e do recorde do ano passado. Apesar do bom nível tecnológico, a influência de um fenômeno El Niño de forte intensidade trouxe duros impactos por conta da irregularidade das chuvas”, disse França Junior.
A Datagro reduziu o potencial de produtividade média da safra 2023/24 dos 3.592 quilos por hectare da estimativa preliminar de julho de 2023 para os atuais 3.233 quilos por hectare. Em caso de confirmação, esse desempenho seria 10% inferior aos 3.589 quilos por hectare do recorde alcançado na safra 2022/23.
Foi observada expressiva retração nos custos operacionais de produção da safra 2023/24 de soja nos Estados do Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul, líderes nacionais na produção da oleaginosa. Porém, a consultoria pondera que esse recuo acontece sobre uma base muito elevada, depois dos fortes aumentos registrados nas safras 2021/22 e 2022/23.
“Esse é o segundo fator fundamental para a definição da renda desta temporada, e o único positivo aos ganhos dos produtores. De saldo, temos a diminuição de gastos com insumos e alguma retração no padrão da taxa de câmbio na temporada, mas, por outro lado, o aumento expressivo nos custos fixos”, pontuou o analista
Em relação à receita, analisando os três principais componentes – Bolsa de Chicago, prêmios de exportação e taxa de câmbio –, a sinalização inicial aponta preços domésticos abaixo dos excepcionais observados de 2020 a 2023, retornando para patamares aquém da média.
“A princípio, temos sinalizações abaixo dos resultados ainda positivos de 2023, e muito abaixo dos excepcionais números de 2020, 2021 e 2022, com indicação de custos de produção menores, mas cenário pior de preços domésticos e produtividades seriamente comprometidas”, acrescentou França Junior.