Em audiência pública na Câmara dos Deputados, na terça (19), a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) debateu os impactos da queda do preço da arroba do boi gordo para o produtor rural.
O assessor técnico da CNA, Rafael Ribeiro, apresentou a variação dos preços no mercado doméstico e os principais fatores que colaboraram para a pressão de baixa, como a maior oferta de animais, demanda interna fraca e a queda nas exportações.
Segundo dados do Cepea, em março de 2022 foi registrado um pico próximo de R$ 350,00 na arroba do boi gordo em São Paulo. Desde então, o valor sofreu queda de 29,6%. Já em dezembro deste ano, o preço do boi gordo caiu 15,5% em relação ao mesmo mês do ano passado.
“A pressão sobre os preços pagos ao produtor impacta o resultado da atividade, principalmente no contexto de custos de produção em alta. Portanto, o elo da cadeia que mais tem sido prejudicado é o produtor rural”, disse.
Ribeiro falou sobre o abate total de bovinos nos últimos meses e como isso influenciou na disponibilidade de carne no mercado. “Com a queda de preços, o descarte de fêmeas se intensifica. Até o terceiro trimestre de 2023, o abate de novilhas cresceu 30,8% e o de vacas 20,9%, comparado ao mesmo período de 2022”.
Em relação às exportações brasileiras de carne bovina, o assessor afirmou que de janeiro a novembro deste ano, frente ao ano anterior, o volume de embarques caiu 2,2% e o preço médio e o faturamento reduziram em 20,8% e 22,6%, respectivamente.
“Os principais motivos para esse cenário de queda foram a doença da vaca louca (EEB) atípica registrada em fevereiro, que gerou suspensão das exportações para a China; a menor pressão de compra por parte do país asiático em razão da recomposição do plantel de suínos e da produção; e o menor ritmo de crescimento da economia chinesa”, explicou.
De acordo com o representante da CNA, a expectativa de mercado de médio e longo prazos é de uma boa oferta de animais e pressão de baixa sobre os preços do boi gordo, animais de reposição e carne bovina; a manutenção dos custos de produção a patamares elevados, com destaque para combustíveis, mão de obra e energia; e atenção ao clima e produção de milho no Brasil em 23/24.
Durante a audiência, o assessor técnico comentou que diante do atual cenário do mercado do boi, a entidade solicitou ao Ministério da Agricultura a criação de linha emergencial de capital de giro, o aumento do prazo de reembolso da contratação de crédito de custeio pecuário com recursos obrigatórios e a renegociação de dívidas de operações de crédito contratadas entre 01/01/2021 e 01/09/2023.
Ao encerrar sua fala, Rafael citou o pedido da CNA ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para fazer parte do processo que avalia a compra de ativos nas operações com bovinos da Marfrig no Brasil pela Minerva. Para a Confederação, isso pode ampliar a concentração de mercado em determinados Estados do país.
“Dentre as consequências desse acordo podemos citar a redução na concorrência entre os frigoríficos, o que geraria menor poder de barganha do produtor, o aumento no custo do frete para o transporte dos animais até o abate e questões relacionadas ao bem-estar animal em função do aumento da distância. Os prejuízos se agravam em casos de fechamento de planta ou suspensões temporárias dos abates”, concluiu.