Com a diminuição dos níveis dos rios, agora é possível atravessar a Ilha do Bananal, no Tocantins, de uma margem a outra, sem a necessidade de embarcação.
A situação, que se repete anualmente, evidencia os impactos da seca na vegetação local, colocando em risco a fauna e flora da região.
Os rios que cercam a Ilha do Bananal e o Parque Estadual do Cantão estão enfrentando uma severa redução em seus níveis.
Um estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) em colaboração com o MapBiomas revelou que, nos últimos 38 anos, o Parque Nacional do Araguaia, situado dentro da Ilha do Bananal, perdeu uma área de superfície de água equivalente a quase quatro mil campos de futebol, totalizando cerca de 3,6 mil hectares. Isso representa uma perda de 36% da superfície hídrica da região.
Ilha do Bananal
Os especialistas indicam que essa diminuição é resultado da compactação do solo, agravada pelo desmatamento e pela criação de gado. Em condições normais, a vegetação permite que a água da chuva seja absorvida pelo solo, infiltrando-se nas camadas inferiores da terra.
Contudo, sem a cobertura vegetal, o solo torna-se menos poroso e mais denso, fazendo com que a água não consiga penetrar e, em vez disso, escoe rapidamente para áreas mais baixas.
“O solo compactado impede a infiltração da água, fazendo com que ela escoe rapidamente, semelhante ao que ocorre em superfícies impermeáveis. A compactação do solo, o desmatamento e a diminuição da infiltração de água estão diretamente relacionados à redução da vazão e da superfície hídrica que observamos ao longo dos últimos 40 anos, com um agravamento recente”, explica o pesquisador da UNB, Ludgero Vieira.
Vieira também ressalta que a Ilha do Bananal não é a única área preocupante. Segundo o estudo do Mapbiomas, sete das dez áreas protegidas que mais perderam superfície de água no cerrado estão localizadas na bacia hidrográfica Tocantins-Araguaia.
No Parque Estadual do Cantão, a redução foi de mais de 3,1 mil hectares, correspondendo a uma diminuição de 24% da área hídrica. Na região das Serras Gerais, no sudeste do estado, a situação é ainda mais alarmante, com uma redução de 81% na superfície hídrica entre 1985 e 2022.
Ameaça dos incêndios florestais
Além da seca, os incêndios florestais também representam uma séria ameaça à sobrevivência da vegetação local. As equipes do Prev-fogo estão em alerta máximo para evitar que as queimadas devastam ainda mais a região. Neste ano, as chamas já consumiram cerca de seis mil hectares no Parque Nacional do Araguaia.
As previsões do ICMBio indicam que os incêndios podem persistir pelos próximos dois meses, complicando ainda mais a situação da maior ilha de água doce do mundo.
Por Antônio Neves.