Há um ditado popular que diz: “não se faz omelete sem quebrar os ovos”. Nos últimos tempos, essa metáfora parece refletir a realidade do mercado: os ovos, antes uma alternativa mais acessível de proteína animal para as famílias de baixa renda, vêm sofrendo sucessivos aumentos de preço. Se a carne vermelha, o frango e a carne suína já se tornaram inacessíveis para muitos, o ovo, que restava como refúgio, também foi impactado. Mas o que está por trás desse aumento? Será a inflação a única culpada, ou há outros fatores em jogo?
A alta no preço dos ovos não pode ser explicada apenas pela inflação de forma genérica. Embora a demanda por ovos tenha se mantido elevada devido ao seu papel como uma fonte de proteína acessível, a oferta foi impactada por diversos fatores, resultando em aumentos expressivos nos preços, que chegaram a 40% em algumas regiões. Entre os principais fatores responsáveis por essa escalada estão o custo dos fertilizantes, a produção de grãos, as condições climáticas adversas e políticas governamentais que buscam amenizar o impacto ao consumidor.
Fatores que impactam o preço dos ovos
- Fertilizantes: toda a cadeia de produção foi afetada pelo aumento dos custos. Em 2024, o Brasil registrou um crescimento de 8,3% nas importações de fertilizantes, atingindo um recorde de 44,3 milhões de toneladas. Esse aumento nos preços dos insumos agrícolas teve um impacto direto na produção de grãos, como o milho, que é um dos principais componentes da alimentação das galinhas poedeiras.
- Produção de grãos: a produção de milho no Brasil para a safra 2024/2025 foi estimada em 119,6 milhões de toneladas, um crescimento de 3,3% em relação à temporada anterior. No entanto, a redução na área plantada e as variações climáticas afetaram a produtividade em algumas regiões, fazendo com que o preço da saca aumentasse 30% já na metade de 2024.
- Efeitos climáticos: o ano de 2024 foi marcado por eventos climáticos extremos, incluindo ondas de calor e secas severas, que impactaram a produção agrícola e afetaram a vida útil dos ovos. Essas condições reduziram a oferta e pressionaram os preços para cima.
Medidas do Governo Federal
Diante da alta nos preços e da insatisfação dos consumidores, o Governo Federal adotou algumas ações para minimizar os impactos no mercado, sem interferir diretamente nos preços, de modo a evitar desincentivos aos produtores. Entre as medidas implementadas estão:
- Isenção de impostos de importação: o governo zerou as tarifas de importação de diversos produtos essenciais, como carnes, café, açúcar, milho, óleo de girassol, azeite de oliva, sardinha, biscoitos e massas alimentícias, visando reduzir os custos e, consequentemente, os preços ao consumidor.
- Fortalecimento dos estoques reguladores: a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) reforçou os estoques reguladores para garantir maior estabilidade nos preços dos alimentos.
- Incentivo à produção de alimentos da cesta básica: o Plano Safra passou a priorizar pequenos e médios produtores para garantir maior oferta de itens essenciais.
- Ampliação do sistema de inspeção: o governo expandiu o Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal (SISBI-POA) e permitiu temporariamente que o Serviço de Inspeção Municipal (SIM) certificasse produtos localmente, como leite, mel e ovos, para venda em todo o território nacional.
- Redução do ICMS: o governo negocia com os estados a redução do ICMS sobre alimentos da cesta básica, incluindo os ovos.
- Subsídios e financiamentos: foram liberados financiamentos para aumentar a produção agrícola e reforçado o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), incentivando a agricultura familiar no abastecimento do mercado interno.
Embora essas iniciativas possam amenizar os impactos da alta dos preços, o cenário ainda exige atenção. A dinâmica do mercado de alimentos é complexa e influenciada por múltiplos fatores, desde variáveis macroeconômicas até questões climáticas e políticas públicas. Assim, garantir o acesso da população a itens essenciais como os ovos demanda um esforço contínuo para equilibrar produção, distribuição e consumo de maneira sustentável.
Por Marcos José Valle. Graduação em Ciências Econômicas, mestre em Educação e Doutor em Sociologia. Professor da Escola de Gestão, Comunicação e Negócios na UNINTER.