Por Marcos Fantin — São Paulo
Com o El Niño cada vez mais fraco, as condições climáticas indicam que o tempo caminha para uma situação de neutralidade no Pacífico, segundo a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA), o principal órgão de monitoramento dos fenômenos, que é ligado ao governo dos Estados Unidos.
A possibilidade de a transição de El Niño para neutralidade acontecer entre abril e junho de 2024 é de 79%, informa o boletim mais atualizado da NOAA. Em paralelo, há 55% de chance do La Niña se estabelecer entre junho e agosto deste ano.
O que é La Niña e quais seus efeitos sobre o Brasil?
O fenômeno La Niña se caracteriza pela queda de mais de 0,5 °C na temperatura da porção equatorial do Oceano Pacífico.
Quando o fenômeno está ativo, o volume de chuvas costuma diminuir no Sul do Brasil – causando estiagem em muitos casos – e aumentar nas regiões Norte e Nordeste do país. No Sudeste e no Centro-Oeste, não há uma correlação tão clara, mas aumentam as chances de ocorrência de períodos frios e chuvosos.
Como será o clima em 2024 com o La Niña
Caso o fenômeno se confirme, a primeira coisa que o La Niña pode causar é o atraso no início do período úmido na região central do Brasil, afirma Desirée Brandt, meteorologista da Nottus. Porém, diferentemente do El Niño, quando essa chuva chegar, ela deve cobrir uma área maior, e não apenas pontual, com chuvas fortes apenas em pontos específicos.
As invernadas no centro do Brasil também ganham força. Isso significa dias consecutivos de chuva persistente, abrangente e volumosa, além de haver pouca incidência de luz solar, o que pode prejudicar as plantas que precisam de luminosidade. Esse quadro favorece o surgimento de doenças fúngicas e atrapalha os trabalhos de campo e a logística da safra nas estradas.
A região Sul, especialmente o Rio Grande do Sul, pode sofrer com a volta das secas. No entanto, o momento não é para alarmismo, afirma Willians Bini, chefe de comunicação da Climatempo.
Os especialistas destacam que os efeitos do La Niña nunca são percebidos com muita força no primeiro ano de ocorrência do fenômeno.
“Mesmo que o La Niña seja de forte intensidade, os efeitos não são instantâneos. Isso porque a atmosfera tem um ‘delay’ a partir do momento em que o fenômeno se estabelece”, explica Brandt, da Nottus.
Quando foi o último La Niña no Brasil?
O último La Niña ficou ativo entre 2020 e 2023. Em alguns meses de 2021, ele atingiu categoria de nível moderado e causou secas históricas em lavouras de milho e soja no Sul do país. Segundo especialistas, o quadro pode se repetir caso o fenômeno se mantenha até 2025.
No Nordeste, o La Niña “trabalha” com o Oceano Atlântico. Isso significa que a chuva só vai realmente ocorrer se o oceano estiver aquecido nas áreas costeiras. Por isso, a tendência é que as chuvas atrasem no Matopiba (área formada por Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) – e, quando elas chegarem, serão bem distribuídas.
“São condições favoráveis. O La Niña pode garantir um fôlego a mais para a próxima safra com chuvas mais bem distribuídas no Matopiba”, concorda Bini.
As perspectivas são melhores também na região Norte, que em 2023 enfrentou uma seca histórica e sem seu período de cheia. Segundo Desirée, o verão vai se encerrar com os níveis dos rios ainda baixos, mas a tendência é que a normalidade das chuvas volte à região com o fim do El Niño.
Durante o El Niño, as águas do Oceano Pacífico se aquecem; quando o La Niña age, elas se resfriam — Foto: Giovanna Gomes/Ed. Globo