A suspensão temporária do imposto sobre exportação de grãos pela Argentina desencadeou uma corrida de importadores chineses à soja do país vizinho. Segundo traders ouvidos pela Reuters, cerca de 40 carregamentos, equivalentes a 2,66 milhões de toneladas, foram registrados nesta semana para embarques em novembro e dezembro, a maior parte destinada à China.
O volume representa mais da metade dos 5,1 milhões de toneladas reservados durante a janela de isenção tributária anunciada pelo governo argentino. A medida havia sido desenhada para durar até o fim de outubro, mas foi encerrada de forma antecipada, após o limite de vendas estipulado ser atingido.
A decisão de suspender o benefício antes do prazo se deu porque o governo já havia alcançado o objetivo de captar até US$ 7 bilhões em vendas externas, fortalecer as reservas internacionais e conter a desvalorização do peso. Também pesou as pressões vinda de dentro e fora do país contra a medida.
A Associação Americana da Soja, por exemplo, se disse apreensiva com os impactos no mercado da isenção argentina sobre os embarques do grão.
Em nota, a entidade afirmou que “os preços da soja americana estão caindo, a colheita está em andamento, e os agricultores leem manchetes que não falam sobre fechar um acordo comercial com a China, mas sim de que o governo dos EUA está oferecendo US$ 20 bilhões em apoio econômico à Argentina, enquanto esse país reduz os impostos de exportação da soja para vender 20 carregamentos de soja argentina à China em apenas dois dias”.
Do lado argentino, a isenção de imposto havia recebido opinões mistas. O presidente da Sociedade Rural Argentina (SRA), Nicolás Pino, por exemplo, elogiou o anúncio e pediu que a isenção fosse permanente.
Já a presidente da Federação Agrária Argentina (FAA), Andrea Sarnari, disse que os pequenos e médios produtores não seriam beneficiados, uma vez que já venderam a sua produção e que o impacto positivo do fim provisório das retenciones se concentraria apenas nos grandes exportadores capazes de estocar grãos à espera de melhores preços.
Impacto negativo para os EUA
A forte entrada da China no mercado argentino representa um novo revés para os Estados Unidos. O país, que tradicionalmente concentra boa parte das exportações globais de soja neste período, não registrou nenhum embarque para a China até 11 de setembro, conforme dados do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA). A janela crítica de comercialização norte-americana vai de setembro a janeiro.
“Se você olhar para as compras de novembro e dezembro, a China reduziu ainda mais sua necessidade de soja dos EUA ao reservar carregamentos argentinos”, disse um trader de oleaginosas de uma empresa internacional.
Por Canal Rural.