No município de Mateiros, no leste do Tocantins, um modelo de organização baseado na cooperação e nos saberes ancestrais tem garantido renda, autonomia e valorização cultural a dezenas de famílias quilombolas. Desde 2001, a Associação Comunitária dos Artesãos e Pequenos Produtores de Mateiros (ACAPPM) reúne 86 associados, em sua maioria mulheres, que vivem da coleta do capim dourado e do uso de frutos do Cerrado para a produção de artesanato, alimentos e cosméticos naturais.
A iniciativa surgiu da união entre famílias de comunidades vizinhas, como Jacurutu, Carrapato, Galheiros, Fazenda Nova, Galhão e Formiga, com o objetivo de fortalecer a produção local e enfrentar desafios comuns. O modelo de gestão participativa, com decisões tomadas em assembleia, garante que cada associado tenha voz ativa na definição de prioridades, no uso de recursos e nas estratégias de atuação.
“A gente busca capacitação, participa de editais e compra equipamentos pensando no coletivo. É assim que ninguém fica para trás”, afirma Laudeci Monteiro, presidente da associação.
Tradição e sustentabilidade no uso do Cerrado

O capim dourado, colhido entre setembro e novembro segundo normas ambientais, é a principal matéria-prima utilizada na produção de biojoias, bolsas, cestos e chapéus. A coleta segue práticas sustentáveis e ajuda a combater o extrativismo predatório. A associação também trabalha com frutos como buriti, jatobá, cajuí, pequi, baru e sucupira, transformados em doces, farinhas, óleos, geleias e sabonetes.
O conhecimento aplicado no manejo dessas matérias-primas é ancestral e circula entre as comunidades de forma oral e prática. As técnicas de trançado e de beneficiamento dos frutos fazem parte da rotina de vida nas famílias envolvidas, especialmente entre as mulheres, que assumem papel central na produção.
Comércio justo e ecoturismo como aliados
Localizada em Mateiros, a sede da ACAPPM funciona como loja, ponto de encontro e espaço de preservação cultural. O local é visitado por turistas que percorrem as rotas do ecoturismo no Jalapão, interessados não apenas na paisagem, mas também na cultura das comunidades quilombolas. Os produtos comercializados conectam visitantes aos modos de vida locais e contribuem para movimentar a economia da região.
Esse cenário crescente de turismo tem exigido cada vez mais profissionalização por parte dos pequenos empreendedores locais. “Nos últimos anos, o Jalapão tem recebido um volume crescente de turistas, impulsionado por novelas, filmes, reality shows e eventos como o Rally dos Sertões”, explica Admary Monteiro, analista técnica do Sebrae Tocantins. “Com isso, aumentam também as exigências por produtos e serviços de qualidade”.
De acordo com a analista, o Sebrae atua em diversas frentes para apoiar esse desenvolvimento, oferecendo desde consultorias em design de artesanato até capacitações em gastronomia, hotelaria e atendimento. “Trabalhamos o destino tanto para inseri-lo no mercado internacional quanto para prepará-lo para receber os visitantes. Os empreendedores locais têm percebido essa necessidade e vêm se adaptando à nova realidade do mercado”, afirma.
Inclusão econômica e desafios estruturais
A associação promove oficinas, cursos de capacitação e organiza a participação dos produtores em feiras e eventos. Os recursos obtidos com as vendas são compartilhados de forma transparente, reforçando a autonomia dos membros e o fortalecimento do vínculo comunitário.
Apesar dos avanços, a ACAPPM ainda enfrenta entraves como dificuldade no transporte para escoamento da produção, falta de certificações e acesso irregular à matéria-prima. A busca por apoio institucional tem sido uma estratégia para superar essas barreiras. Parcerias com entidades como o Sebrae contribuem com orientação técnica, qualificação da gestão e abertura de novos mercados.
“Quando o coletivo é fortalecido, os resultados alcançam toda a comunidade. O apoio institucional é sempre bem recebido e nos permite aprimorar nosso trabalho e oferecer produtos e serviços cada vez melhores”, destaca Laudeci.
Um modelo possível de desenvolvimento no Cerrado

A trajetória da ACAPPM evidencia que o empreendedorismo coletivo, quando alicerçado em saberes tradicionais e práticas sustentáveis, pode funcionar como uma via eficiente para a inclusão econômica em áreas de grande riqueza natural e cultural.
No Jalapão, cada peça de capim dourado e cada fruto transformado carrega não apenas valor econômico, mas também histórico e ambiental. O trabalho da associação mostra que o desenvolvimento pode ser coletivo, respeitoso e conectado ao território.
Produtos da Associação
Para mais informações, entre em contato com a ACAPPM através do e-mail: acappmjalapao@gmail.com ou pelo telefone/WhatsApp: (63) 99139-2172.