A madeira tratada pode ter inúmeros usos no estabelecimento rural e, pensando nisso, a Embrapa Pecuária Sul (RS) e a Universidade Federal de Pelotas (UFPel) disponibilizam ao produtor uma planilha exclusiva para o cálculo do custo de produção e do tratamento dessa matéria-prima. O objetivo é aprimorar o planejamento e a gestão do recurso nas propriedades.
A planilha auxilia no cálculo do volume de madeira a ser tratada; na obtenção da quantidade de insumos necessários; na inclusão de todos os custos envolvidos no tratamento e na obtenção do seu custo por peça tratada. Caso o produtor tenha um plantio florestal na propriedade, a tecnologia também calcula o custo de produção com a opção de adicioná-lo ao custo envolvido no tratamento da madeira.
Um dos tratamentos recomendados pela Embrapa é o de substituição de seiva, considerado um procedimento simples para ser feito pelo produtor (veja Comunicado Técnico sobre). Para isso, é preciso dimensionar o volume da madeira a ser tratada e a quantidade de água e de produtos hidrossolúveis usados no processo. Com a tecnologia, é possível fazer os cálculos automaticamente. “A planilha é um facilitador para o produtor rural calcular a quantidade de produto hidrossolúvel que será usado na sua solução preservativa. Em vez de estar fazendo uma série de cálculos, ele só vai inserir algumas informações na planilha e já vai ter automaticamente os resultados”, destaca o professor da UFPel e um dos responsáveis pela planilha, Leonardo Oliveira.
Conforme o pesquisador da Embrapa Hélio Tonini, também da equipe que desenvolveu a ferramenta, fazer esse tipo de tratamento na propriedade pode ser vantajoso, principalmente para produtores detentores de pequenas áreas florestais em monocultivos ou sistemas silvipastoris que necessitam de madeira tratada para a manutenção de cercas e demais construções rurais, reduzindo os custos com a compra de madeira e o frete até a propriedade.
Tonini conta que, décadas atrás, as tramas, mourões, palanques, postes etc. utilizados nas cercas das propriedades eram provenientes de espécies nativas, geralmente disponíveis no local, como o angico vermelho e a guajuvira, consideradas de alta durabilidade natural. “A durabilidade era um fator determinante para a escolha do material utilizado, já que essas peças de madeira têm contato direto com o solo e são expostas às intempéries e a ação de fungos e insetos”, lembra o pesquisador. “Com a escassez de madeiras nativas de alta durabilidade natural, passou-se a confeccionar essas peças a partir da madeira de eucalipto, normalmente de plantios mais jovens e mais suscetíveis à degradação por agentes decompositores e que necessitam de tratamento com substâncias químicas, capazes de protegê-la da biodegradação e de prolongar sua vida útil”, explica.
Com o tratamento, a madeira tem durabilidade, no mínimo, cinco vezes maior. “Por exemplo, se nós colocarmos em contato com o solo, uma cerca com madeira de eucalipto sem nenhum tratamento vai durar de dois a três anos, no máximo, e vai se degradar. Entretanto, se fizermos o tratamento dessa peça, ela vai durar 15 anos ou mais. Portanto, a gente prolonga o uso e estende a vida útil desse material, e o produtor vai ter madeira com maior durabilidade dentro da sua propriedade” explica.
Acesse aqui a planilha e veja os itens que podem ser calculados para determinar o custo de produção e de tratamento da madeira na propriedade rural.
Serviços ambientais
Em 2023, os produtos gerados pelas árvores totalizaram R$ 37,9 bilhões, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além dos produtos madeireiros (madeira em tora, lenha, carvão, cavacos, entre outros) e não madeireiros (frutos, sementes, casca, folhas, óleos, resinas) obtidos em florestas plantadas e nativas, as árvores cumprem diversas funções ambientais de grande valor para os produtores rurais e à sociedade. Entre esses serviços estão a estabilização de encostas e proteção das fontes de água; e a formação de cercas vivas e quebra-ventos para a proteção dos cultivos agrícolas, pastagens e animais dos efeitos adversos do clima, melhorando os indicadores de conforto térmico animal e, com isso, gerando aumentos na produtividade e fertilidade do rebanho.
Outra importante função ambiental das árvores é a de retirar gás carbônico (CO2) da atmosfera durante o seu processo de crescimento. O elemento é imobilizado na biomassa, o que as torna agentes de mitigação de emissão de gases de efeito estufa, especialmente os emitidos pela pecuária. Estudos científicos vêm demostrando que, em sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), a taxa de lotação animal neutralizável pelas árvores está geralmente acima das médias regionais, com excedentes variando entre 3,8 a 6,8 UAs (unidade animal) por hectare.
Comunicado técnico
Tonini e Oliveira também assinam o comunicado técnico 110 – Tratamento da madeira na propriedade rural, procedimentos para a sua aplicação, licenciamento e gestão financeira. A publicação apresenta o contexto da produção de madeira, e está divida em tópicos como tratamento da madeira, cuidados para tratamento e preservação da matéria-prima, cuidados com os produtos químicos usados na propriedade rural e explica como usar a planilha.
A origem da Planilha
A planilha foi desenvolvida em parceria com o curso de Engenharia Industrial Madeireira da UFPel, a partir de uma capacitação realizada em Bagé (RS), em 2019, sobre o tratamento de madeira na propriedade rural. Para aquela capacitação foi desenvolvida uma versão preliminar da planilha, com o objetivo de auxiliar os produtores interessados em fazer o tratamento para a preservação da madeira, utilizando a metodologia de substituição de seiva.
Por Embrapa Pecuária Sul.