Por José Florentino — São Paulo
A produção brasileira de peixes de cultivo cresceu 3,1% em 2023, de 860,4 mil toneladas para 887,03 mil toneladas, estima a Associação Brasileira de Piscicultura (Peixe BR). O aumento ficou abaixo da média dos últimos dez anos, de 5,3%, e aquém dos dois dígitos esperados pelo setor.
Francisco Medeiros, diretor-presidente da Peixes BR, explica que problemas climáticos e sanitários afetaram significativamente a produção em São Paulo, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais. “O clima também afetou o Oeste do Paraná; com as altas temperaturas, reduziu-se a alimentação e o tempo de abate, gerando prejuízos”, diz.
O Estado do Paraná liderou a produção de peixes de cultivo com 213,3 mil toneladas, seguido por São Paulo, com 82,4 mil toneladas; Minas Gerais, com 61,6 mil toneladas; Rondônia, com 56,5 mil toneladas; e Santa Catarina, com 56,1 mil tonelada.
No ano passado, a tilápia representou 65,3% da produção nacional, com 579,08 mil toneladas. Os peixes nativos somaram 263,48 mil toneladas (29,7% do todo) e outras espécies, como carpa, truta e pangasius, atingiram 44,47 mil toneladas, o que representa 5% do total.
“Este ano, temos a expectativa de um bom crescimento, olhando para os números de alojamento”, disse Medeiros, em apresentação do Anuário Peixe BR 2024 nesta quinta-feira (29/2).
Tilápia
A produção de tilápia aumentou em 5,2% em um ano. Os principais Estados produtores foram o Paraná, com 209,5 mil toneladas (+9,9%); São Paulo, com 75,7 mil toneladas (1,2%); e Minas Gerais, com 58,2 mil toneladas (+12%).
Medeiros destacou que a produção em Pernambuco, de 32 mil toneladas, poderia crescer mais caso o governo acelerasse a concessão de águas da União para piscicultores do Vale do São Francisco, que também beneficiaria produtores baianos. “Grande parte desses produtores são pequenos”, salientou.
Do lado do consumo, a Peixe BR indicou que o consumo no mercado interno mais do que dobrou desde 2014, saindo de 1,47 quilos por habitante no ano para 2,84 quilos por habitante no ano. Em relação a peixes de cultivo de forma geral, o aumento foi de 53%, de 3 quilos para 4,35 quilos por habitante no ano.
“Nenhuma outra proteína cresceu a essas taxas”, frisou o diretor-presidente. A carne bovina, por exemplo, perdeu espaço na mesa do brasileiro, com o consumo per capita de 42 quilos, 10 quilos a menos do que dez anos atrás.
O Brasil é hoje o quarto maior produtor mundial de tilápia, atrás de China (2 milhões de toneladas, Indonésia (1,45 milhão de toneladas) e Egito (1,1 milhão de toneladas). Chama a atenção que o Egito produz o dobro do Brasil tendo como área disponível apenas o Delta do Rio Nilo. “Até o fim da década, teremos alçando ou passado o Egito”, projeta Francisco Medeiros.
Peixes nativos e outras espécies
A produção de peixes nativos em 2023 foi 1,3% menor que a do ano anterior. Lideram a produção Rondônia (56,5 mil toneladas), Mato Grosso (40,5 mil toneladas) e Maranhão (38,3 mil toneladas).
De acordo com Medeiros, a produção dessas espécies continua sendo prejudicada pela “forte pressão ambiental”, principalmente no Amazonas, onde a oferta poderia crescer significativamente. Hoje, os piscicultores amazonenses produzem 20,5 mil toneladas de peixes nativos, o que sequer atende a demanda no Estado.
A oferta de outras espécies — puxada por carpas, trutas e pangasius — ficou praticamente estável no ano passado.O Rio Grande do Sul foi o maior produtor, com 17 mil toneladas, seguido por Santa Catarina (8,5 mil toneladas) e Maranhão (5,8 mil toneladas).