Não é de hoje que a sigla ESG aparece nos assuntos relacionados ao agro. As três letras traduzidas do inglês significam environmental, social and governance (ambiental, social e governança) e destacam o compromisso que o profissional deve ter com essas áreas.
Na prática, ESG é uma versão 2.0 da responsabilidade socioambiental que, segundo especialistas do meio rural e da indústria, abre oportunidades para crescer, auxiliar a sociedade e, claro, ganhar dinheiro.
“Costumo dizer que ESG é a materialização do conceito de sustentabilidade. Sabemos que ela é conceitual e representa o tripé de economia, sociedade e ambiente”, resume Artur Falcette, professor do curso Agricultura Sustentável na Prática da Globo Rural e da Rehagro.
Tem vagas, mas falta profissionais
Na visão do professor, que atua como secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação do Mato Grosso do Sul (Semadesc), o mercado de ESG possui diversas oportunidades de trabalho, mas ainda é carente de profissionais qualificados.
Apesar da indústria brasileira e do setor de serviços estarem mergulhados na temática desde a década de 90, a expertise ainda é nova para o agro.
Muito além de entender o setor, como um agrônomo, técnico ou zootecnista seria capaz, agora, o profissional deve possuir conhecimentos sobre aspectos do ambiente e sociedade, como legislação ambiental e trabalhista, riscos potenciais de contaminação e de escassez, etc.
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“É muito difícil abraçar, ter a experiência prática e a formação na área. O agro quer entrar na discussão, mas não tem profissionais em quantidade, nem qualidade”, opina Falcette.
Alexandre Mendonça, gerente da Robert Half, empresa que realiza recrutamento especializado para diferentes setores econômicos, concorda.
“Reunir tudo em uma só pessoa demora. São práticas que os profissionais precisam ter e que, por vezes, aprendem na teoria, mas precisam de tempo para colocar em prática, que pede outra dinâmica.”
Quanto ganha um especialista em ESG?
O salário de profissionais de ESG depende da formação e também da área de atuação. Normalmente, são analistas seniors ou especialistas em estruturas empresariais. Eles precisam conhecer bem a área e ter experiência.
Empresas nacionais
- Analista sênior: R$ 8 mil a R$ 10 mil
- Especialista: R$ 10 mil a R$ 14 mil
Empresas multinacionais
- Analista sênior: R$ 9 mil a R$ 11 mil
- Especialista: R$ 11 mil a R$ 16 mil
O valor já está bom e tende a aumentar. O futuro, claro, depende da oferta e da demanda. Mas se tirarmos um recorte de hoje, a procura está maior e a tendência é isso se manter a longo prazo”, esclarece Mendonça.
Cursos de ESG e sustentabilidade
Não é necessário ter uma graduação específica para atuar na área. Há cursos no Brasil de curta duração que olham para a área de ESG e sustentabilidade que servem como aprimoramento do currículo.
“Nas grandes indústrias do agro, como os bancos, por exemplo, com diretores e gerentes de sustentabilidade, notamos que a formação deles é mais focada na gestão. A parte ambiental foi construída na prática”, diz Artur.
Recentemente, a Globo Rural e o Rehagro, empresa referência no segmento de educação com mais de 20 anos de experiência, lançaram um curso online focado em sustentabilidade. Com carga horária mínima de 16 horas, a programação do curso aborda temas como mudanças climáticas, ESG e mercado de carbono.
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As aulas também vão abordar questões práticas, apresentando casos e promovendo interações e compartilhamento de informações com produtores campeões em sustentabilidade, que possuem certificações nacionais, internacionais, em diversas atividades no setor.
O que faz um especialista em ESG?
O especialista deve conhecer o processo do processo produtivo à gestão da empresa. Além disso, é necessário mapear os riscos associados ao trio (ambiente, sociedade e governança), mensurá-los e propor alternativas para tratar e reduzir.
Outro ponto de destaque é a capacidade de gerar engajamento das pessoas em torno da discussão.
Conforme Alexandre Mendonça, o profissional precisa estar alinhado e ser um defensor das melhores práticas dessas áreas dentro da companhia.
Quais são as oportunidades de trabalho?
Nas grandes empresas do agro, é comum a presença de diretores, coordenadores, gerentes e analistas de sustentabilidade. No caso das fazendas, porém, encontrar profissionais de ESG é raro, a não ser em grandes propriedades, que costumam investir na profissão.
“O que a gente vê também e, acho que tem um grande mercado para as propriedades rurais, são empresas de assistência técnica que vão assistir esse produtor dentro da temática sustentável. Logo, vemos um mercado grande para consultores”, explica Artur.
O que esperar da profissão?
“As coisas mudam sempre, mas, diante das práticas já adotadas e conhecidas, acredito em uma evolução constante e no aumento da busca por profissionais”, afirma Mendonça.
Profissão do futuro
Para Artur Falcette, o aumento da preocupação com o meio ambiente mostra que é seguro e importante se capacitar ainda mais para ficar completo no mercado.
“Digo para aqueles que têm afinidade com a área que estamos em um momento onde as empresas ainda estão tateando isso. Por isso, é hora de iniciar o trabalho para ganhar experiência”, finalizou o líder do Comitê de Sustentabilidade do Rehagro.
Alexandre Mendonça vai na mesma linha e destaca a necessidade de um olhar amplo sobre ESG na agricultura, pecuária ou qualquer outra área.
“Penso que os profissionais precisam olhar para a área de ESG cada vez mais forte, pois quem não tiver esse conhecimento nas estruturas vai perder empregabilidade no futuro. Se as pessoas não olham para isso, vão perder potencial competitivo”.
O gerente ainda aponta que as empresas que não adotarem práticas sustentáveis irão perder espaço, pois a demanda por práticas evoluídas e em acordo com o ambiente vem também dos consumidores.