No toque suave dos tecidos e no compasso das máquinas, nascem não apenas roupas, mas histórias de independência e superação. Entre desfazer a bainha de uma calça, ajustar um vestido ou remodelar a cintura, as mãos dessas mulheres fazem mais do que pequenos consertos: elas costuram sonhos e oportunidades. Dos ateliês improvisados às oficinas especializadas, o mercado da costura cresce junto com a força e a criatividade feminina.
No Brasil, o empreendedorismo impulsiona mais de 47 milhões de pessoas, representando 33,4% da população adulta. No Tocantins, as mulheres têm conquistado cada vez mais espaço nesse universo: segundo o Sebrae Tocantins, são 331 mil mulheres no mercado de trabalho, das quais 62 mil (18,7%) estão à frente de seus próprios negócios. A maioria dessas empreendedoras — cerca de 78% — tem entre 25 e 59 anos, um recorte que reforça a vitalidade e a força da presença feminina na economia do estado.
O Papel das costureiras em Palmas
Dona Cicera em seu ateliê. (Foto: Arquivo pessoal).
Em Palmas, a costura é mais do que um trabalho manual: é oportunidade, cultura e também uma porta de entrada para a independência financeira. As costureiras costuram sonhos e histórias em cada ponto alinhavado. Algumas, como dona Cicera Martins, do @Costurarte.atelie, microempreendedora individual há mais de 16 anos que já foi atendida pelo Sebrae Tocantins, transformam a paixão pela confecção em sustento e esperança.
“O atendimento que recebi do Sebrae em Palmas foi um divisor de águas para mim. Comecei meu negócio que fica localizado na periferia do Aureny IV, por volta de 2009, e desde então busquei o Sebrae para legalizar minha empresa da maneira certa. Consegui um empréstimo pelo Banco do Povo que me permitiu comprar as máquinas e equipamentos essenciais para dar o primeiro passo. Também fiz cursos do SENAI, que me ajudaram a aprimorar meu trabalho e me deram coragem para seguir em frente. Hoje, vejo que cada peça que costuro é também um pedaço do meu sonho, e isso me enche de orgulho”, declarou a costureira.
Peça feita pela Cicera para a cantora Cállyta Emanuelly. (Foto: Arquivo pessoal).
No Tocantins, o setor de Moda e Confecção se destaca com 8.205 empresas, reunindo 13,1% das mulheres empreendedoras. Apesar disso, desafios como acesso ao crédito e a jornada dupla persistem. Dona Cicera, sente essas barreiras de perto: além da clientela exigente, precisa superar a dificuldade de obter materiais e apoio, um reflexo do cotidiano de muitas mulheres empreendedoras no estado.
“É desafiador. A gente precisa se virar para encontrar o que precisa e agradar a cada cliente. Muitas vezes temos que pedir de fora, e isso encarece o custo. Mas acredito que essas barreiras fazem parte do nosso caminho. Ser mulher empreendedora aqui em Palmas não é fácil, mas cada conquista vale a pena. Não só para mim, mas para todas as outras mulheres do meu segmento, na maioria sendo chefe de família, que possam estar passando por algum problema — como conseguir crédito ou a orientação certa para tocar o seu negócio. Cada ponto que a gente costura é também uma oportunidade para transformar a nossa vida e a de quem está ao nosso redor”, comenta.
A grandiosidade dessa peça mostra o profissionalismo e a desenvoltura de Dona Cicera. (Foto: Arquivo pessoal).
A luta do empreendedorismo feminino
Segundo a ministra interina do Ministério da Mulher, a tocantinense Eutalia Barbosa, 51% das mulheres empreendedoras no Brasil são chefes de família e 53% são mães — dados que evidenciam o desafio adicional que enfrentam ao conciliar trabalho e vida familiar. Durante o Fórum de Microempreendedorismo que aconteceu na última quarta-feira, 4 , ela destacou a importância de políticas públicas que garantam acesso a crédito e autonomia econômica para essas mulheres. Apesar do número crescente de empreendimentos liderados por mulheres, ainda existem barreiras significativas, como a dificuldade no acesso a financiamento e a capacitação técnica, que precisam ser superadas para garantir sustentabilidade e crescimento real para os negócios femininos.
Luciana Retes, analista do Sebrae. (Foto: Arquivo pessoal).
Luciana Retes, analista do Sebrae, destaca a importância de ouvir as mulheres empreendedoras: “Procurarem o Sebrae para pedir apoio, ajuda. A gente tem como escutar essas mulheres, porque acredito que toda prestação de serviço precisa ter como ponto de partida a escuta, né? A gente precisa ouvir o interesse do cliente, o que esse cliente precisa, para então poder atendê-lo”, destaca.
Ela explica que no empreendedorismo feminino, não importa o setor, as necessidades são muito parecidas. “Normalmente, quando a mulher sonha em empreender, ou quando busca abrir um negócio, ou já está à frente do seu negócio, ela carrega também um peso cultural. Afinal, a mulher começou há pouco tempo a descobrir o seu potencial e a se sentir merecedora dos espaços. A gente percebe que a mulher tem muito a desenvolver na área comportamental, na autoestima, na força da sua autenticidade — e principalmente, não ter medo de assumir riscos, porque ela se prepara muito”, finaliza.
Você sabia que o Sebrae oferece cursos e orientações para quem quer abrir seu ateliê e começar no ramo da confecção? É uma oportunidade incrível para transformar habilidade e criatividade em um negócio de sucesso!
Quando a costura vira arte e representatividade
Muito além de costureira, Dona Cicera também é estilista. Em parceria com a loja Capim Dourado Arte Brasil, especializada em peças artesanais de capim dourado, ela desenhou e confeccionou o figurino usado por Genesia Oliver, vencedora do Miss Beleza Tocantins 2023 e atual Miss Brasil Petite 2024.
“Foi um trabalho que me encheu de orgulho e emoção. Eu queria que a roupa mostrasse toda a força e a delicadeza da mulher tocantinense, usando a beleza do nosso capim dourado. Quando vi Genesia desfilando, me senti realizada — como se fosse um pedacinho de todas nós ali no palco”, destaca.
Genesia Oliver, vencedora do Miss Beleza Tocantins 2023 e atual Miss Brasil Petite 2024. (Foto: Arquivo pessoal).
Moda e Cultura no Arraiá da Capital
Para Cicera e as demais costureiras microempreendedoras, o mercado junino também representa uma oportunidade única de renda. Os bordados coloridos e as roupas de festa típicas das quadrilhas juninas movimentam uma cadeia produtiva que vai além da cultura: gera emprego, movimenta a economia e fortalece o empreendedorismo feminino.
Fantasias juninas feita pela Dona Cícera. (Foto: Arquivo pessoal).
A tradição junina se transforma em oportunidade de negócio. As roupas coloridas, bordadas e feitas sob medida são essenciais para a exuberância dos grupos, e as costureiras locais têm um papel de protagonistas nesse espetáculo cultural. Cada detalhe — desde as rendas delicadas até as fitas vibrantes — carrega o talento e a história dessas mulheres.
“Desde 2012, produzo os figurinos da quadrilha Pizada da Butina — e continuo fazendo até hoje. Ao longo desses anos, já criei figurinos para eles e também para outras quadrilhas, em um trabalho que se intensifica entre janeiro e junho, época em que concentro a produção das roupas de festa junina. Atuo também com figurinos de forma mais ampla, criando vestidos de noiva, trajes para festas, fantasias escolares e roupas temáticas para escolas e eventos. Meu trabalho se conecta com a cultura e a criatividade, e venho me especializando cada vez mais nesse universo tão vibrante”, diz.
Arraiá da Capital: A oportunidade das costureiras
E é no Arraiá da Capital que tudo isso ganha vida de forma ainda mais grandiosa. “Ao ver o Arraiá da Capital, sinto um misto de emoção e inspiração — é um momento maravilhoso para o setor de confecção”, conta Dona Cicera. Em 2025, a 33ª edição do Arraiá acontece de 25 a 29 de junho, no Estádio Nilton Santos, com R$ 158,5 mil em prêmios distribuídos entre os grupos dos segmentos Especial, Acesso e Comunidade.
Junina Encanto Luar durante apresentação no 32º Arraiá da Capital. (Foto: Júnior Suzuki/Ascom Fundação Cutural de Palmas).
A festa reúne dezenas de quadrilhas — entre elas, Pisada da Butina, Cafundó do Brejo, Explosão do Amor Caipira, Estrela do Sertão e Fulô de Mandacaru — consolidando o evento como uma das principais vitrines para a criatividade e o talento das costureiras de Palmas. Para ela, o Arraiá representa não só uma oportunidade de visibilidade, mas um momento de celebração coletiva que impulsiona toda a economia criativa local.
Onde encontrar as costureiras em Palmas
(Foto: Carlessandro Souza/Governo do Tocantins)
Em meio aos desafios do mercado e às transformações culturais, as costureiras de Palmas seguem alinhavando oportunidades e moldando um futuro que pertence a elas. Mais do que pontos alinhados em tecidos, suas mãos costuram sonhos, confiança e, sobretudo, autonomia.
O Portal Tocantins Rural criou um mapa exclusivo no Google, reunindo dezenas de costureiras e ateliês em Palmas — uma ferramenta prática e confiável para quem vive o dilema de sempre pedir indicações e nunca encontrar a costureira certa. Agora, valorizar o talento dessas mulheres incríveis e escolher o profissional certo para cada necessidade ficou muito mais fácil.