Por Marcos Fantin – Globo Rural
A “vassoura-de-bruxa” é uma doença que afeta as plantas de cacau, causada pelo fungo Moniliophthora perniciosa. A praga é endêmica da região amazônica e foi devastadora para as lavouras cacaueiras do Brasil quando surgiu no sul da Bahia, em 1989.
O Brasil chegou a ser o segundo maior produtor mundial de cacau na década de 1980, com safras de mais de 400 mil toneladas. Em 1986, época anterior à vassoura-de-bruxa, foram produzidas 458.754 toneladas de amêndoas de cacau.
Esse índice passou a cair ano a ano, até atingir 190 mil toneladas em 2000. Depois do advento da vassoura, o país nunca atingiu o mesmo patamar de produção. Em 2022, foram produzidas 273 mil toneladas, segundo dados do IBGE.
Vassoura-de-bruxa ainda é um problema?
Sim. Mesmo após tantos anos, a praga ainda é o principal problema para os cacauicultores brasileiros, e pesquisadores seguem buscando meios de combater a praga.
Entre as várias lavouras devastadas pela vassoura-de-bruxa no sul da Bahia, uma delas fica em Itabuna. Segundo a produtora Cláudia Sá, que viveu a infestação dos cacaueiros, a praga derrubou 80% da produção de suas fazendas em dois anos.
“Chegamos a produzir 150 mil arrobas de cacau. Com dois anos de vassoura, caiu para 20 mil. Quem passou por isso, não quer passar por nada parecido”, diz.
Cláudia afirma que o clima dos últimos anos na Bahia tem colaborado com a proliferação da praga: calor de dia, frio e chuva à noite. “Há três anos, a média era de 12% de perda, em 2022 de 20% e esse ano, 30%”. Segundo ela, uma média de 10% de perda por ano é considerada normal.
Como ocorre a contaminação?
De acordo com a Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz) ela se dá durante a fase reprodutiva do fungo Moniliophthora perniciosa. Neste período, a contaminação acontece quando os esporos se fixam na superfície da planta.
A doença ataca as plantas em vários estágios, desde o viveiro até a planta adulta, tanto nos galhos quanto nos frutos, até chegar ao domínio total.
A principal forma de disseminação é pelo ar, mas as chuvas também colaboram com a proliferação. Segundo a Confederação Nacional da Agricultura (CNA), sequências de dias chuvosos, intercalados por dias secos, contribuem para o início de novas epidemias.
Como identificar?
Depois de contaminados, os fungos vivem uma fase em que ficam como se estivessem dormentes e quase não se multiplicam. Enquanto isso, na tentativa de salvar o ramo infectado, a planta começa a enviar mais nutrientes e hormônios de crescimento para essa região.
Isso provoca um crescimento anormal das folhas e, cerca de um mês depois da infecção, forma-se a chamada “vassoura verde”, que é a etapa inicial da doença, explica a FioCruz.
Depois, a planta parece se dar conta de que o ramo está perdido e tenta recuperar os nutrientes acumulados na parte doente para as suas partes sadias, mas isso não funciona. O fungo realiza o contra-ataque, acelerando a morte da vassoura verde.
Com o ressecamento do ramo, agora transformado em vassoura-de-bruxa, a planta não consegue resgatar os nutrientes a tempo, ainda segundo informações técnicas da FioCruz.
Enfim, o fungo tem tudo o que precisa para crescer e se multiplicar: um ramo morto e cheio de substâncias nutritivas.
Como prevenir e combater?
De acordo com a FioCruz, uma das formas de controle é enxertar mudas de plantas resistentes à vassoura-de-bruxa em plantas sensíveis à doença. Aproveita-se a raiz da planta doente, unida por uma fita ao caule da planta resistente. Desta forma, forma-se uma nova planta sadia.
O manejo integrado de controle da vassoura-de-bruxa tem algumas recomendações da CNA: o controle cultural sugere a remoção dos galhos e brotos infectados, enquanto o genético envolve o plantio de espécies tolerantes e resistentes.
O biológico recomenda o uso do agente Trichoderma stromaticum e, por fim, o controle químico indica o uso racional de um fungicida protetor à base de óxido cuproso e de um sistêmico do grupo dos triazóis e tebuconazole.
Por que a praga recebe o nome de “vassoura-de-bruxa”?
A vassoura-de-bruxa recebe esse nome devido aos sintomas característicos que provoca nas plantas de cacau – a deformação dos galhos do cacaueiro os deixa semelhantes a uma vassoura velha.
“Os esforços para combater a vassoura-de-bruxa incluem o uso de práticas culturais, como a eliminação de plantas doentes e o desenvolvimento de variedades resistentes de cacau. O Brasil ainda convive com a vassoura e, portanto, os produtores precisam continuar atentos”, diz Anna Paula Losi, presidente-executiva da Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC).
Vassoura-de-bruxa na novela Renascer
A praga é tema central da nova novela das nove. ‘Renascer’, que estreou na TV Globo na última segunda-feira (22/01), conta a história de produtores de cacau que enfrentaram a proliferação da vassoura na década de 1990 no sul da Bahia. Ao longo da trama, serão mostradas formas de manejo que os agricultores encontraram para salvar suas lavouras.
A obra, do autor Bruno Luperi, é uma adaptação da novela de mesmo nome exibida em 1993 e escrita por Benedito Ruy Barbosa, que trouxe um panorama do pós-vassoura-de-bruxa à época.